24 de julho de 2009

Chamo-me Joana e não tenho Padrinho!

Olá
Eu chamo-me Joana e tenho 16 anos. Desde os 12 anos que tenho um padrinho que infelizmente este ano não pode ajudar-me. Sei que ele gosta de mim e penso muito nele e no que de bom fez por mim. Era meu padrinho e do meu irmão. Graças a ele posso estudar e graças a ele o meu irmão está na 12ª Classe e quase a chegar ao seu sonho de ser padre.
Mas estou triste de não termos mais um padrinho e tenho medo de não poder estudar mais. Já estou na 10ª Classe e gostava muito de poder continuar a estudar. Eu tenho boas notas e a minha disciplina preferida é Química. Moro apenas com a minha mãe e o meu irmão está no seminário em Maputo. Não temos machamba e a comida que recebemos do Apadrinhamento é essencial para nós.
Queres ser nosso padrinho?
Manda um e-mail para geral@umpequenogesto.org e diz que queres ser padrinho da Joana e/ou do Lúcio, vou ficar muito contente!
Joana

8 de julho de 2009

Às vezes é difícil não perder a esperança

A semana passada, tive de dizer a um menino de 10 anos que não lhe daria a comida da distribuição mensal até que voltasse a ir à escola diariamente e aparecesse todos os dias na casa das irmãs. O João é órfão, a sua mãe abandonou-o e a sua madrasta tentou roubar a sua comida. A Irmã Aparecida é agora quem o alimenta, veste e o manda à escola. Mas a tentação é forte e, na semana em que recebe a comida, fica em casa a comer... Já que era semana de exames do trimestre, tivemos de atrasar-lhe a comida...

Anteontem fomos à procura da casa de um menino da 2ª classe que deixou de vir à escola. Quando apareceu, disse que o pai não o deixava vir à escola porque queria que o menino trouxesse dinheiro para casa todos os dias. Quando fomos a sua casa percebemos porque veio à escola: o pai estava fora em Maputo. A Irmã Isabel prometeu voltar no Domingo para falar com o pai mas ontem o menino voltou às ruas. O pai voltou.

Ontem, quando saía da Escolinha de manhã, um policia pediu-me que desse boleia a um menino perdido. Disse que alguém o poria num carro para casa, a mais de uma hora de distância. Com medo de levar um menino desconhecido comigo mas sem coragem para dizer que não, decidimos levá-lo à esquadra mais próxima. O Ercídio não falava português e o meu escasso Changana serviu apenas para lhe descobrir o nome. Ainda mais reparámos que tinha um atraso mental. Garantimos que a policia o recebia e o levaria de volta mas continuaremos sempre sem saber se algum dia voltará a casa...

É difícil não perder a esperança num sítio destes mas é ainda mais difícil não ter esperança que as coisas podem melhorar. Confio que podem, rezo para que possam e espero que alguém oiça e se junte aos meus esforços. Como dizem aqui em Moçambique “tamos juntos”, é tudo o que podemos tentar fazer, pequenos gestos, e esperar que grandes ajudas aconteçam!

Sara, em Moçambique