27 de janeiro de 2014

Happy hour em Chinhacanine!

Estamos em Chinhacanine, através da ONG Um Pequeno Gesto Uma Grande Ajuda a fazer voluntariado no Centro Renascer P’ra Esperança, cuja principal missão é proporcionar alimentação e educação às crianças locais.
O nome diz tudo! Os trilhos acidentados que nos separam da cidade mais próxima tornam-se grades que nos condenam ao isolamento.
Seja pelos buracos, seja a tentar evitá-los, quando nos deslocamos, não paramos de ser sacudidos. Esta região é gravemente afetada por cheias, tendo as do último ano causado inúmeros danos, sobretudo nas estradas.

O nível de água da última catástrofe aproximou-se do topo das casas. Infelizmente, foram poucas as que resistiram, uma vez que a maior parte da população vive em palhotas, feitas de capim e matope.
É-nos muito difícil imaginar áreas completamente submersas, talvez por pouco tempo, pois esta zona está em alerta amarelo. E como se as cheias não bastassem, estamos no distrito de Moçambique onde há mais mortes devido à malária. 

A adaptação a este mundo está a ser árdua. Estar à distância e saber que não há água canalizada, que a eletricidade é inacessível, que há doenças como o SIDA e que o calor é insuportável, é bem diferente de enfrentar estas realidades no terreno.

As diferenças não se ficam por aqui, também o conceito de família é distinto do nosso. Como resultado da prática usual de poligamia, as famílias são muito numerosas e as relações familiares complexas. Habitualmente, as crianças não vivem com os pais, ou porque estes morreram ou porque as abandonaram. Os pastores de 5 anos são exemplo da precocidade com que as crianças começam a trabalhar. Ainda adolescentes são obrigadas a abdicar do seio familiar, ficando entregues a si próprias.
Com o propósito de combater esta realidade e ajudar a comunidade onde estamos inseridos, a nossa intervenção passa pelo apoio ao ensino e entretenimento.

É muito reconfortante ver como simples brincadeiras têm um impacto tão positivo nas crianças, marcadas pela falta de afetos e carinho.
Quando anoitece, o calor continua insuportável e, de roupa sempre colada ao corpo, não conseguimos fazer nada. A falta de alimento não é uma preocupação para os mosquitos: estamos cá nós! Mesmo com redes mosquiteiras, passamos a noite em sofrimento, já que eles entram por todos os lados. Quando o calor ou a claustrofobia nos obrigam a arrancar a geringonça, é a happy hour dos mosquitos e aí, sim, somos comidos vivos.

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