"Primeiras
impressões de Moçambique.... Primeiras impressões da verdadeira África...
É um lugar comum
falar da terra vermelha, dos aromas quentes, das estradas sem fim e dos
sorrisos… por todo o lado grandes sorrisos expressivos. Por mais lugar comum
que estes aspetos sejam em testemunhos de visitantes estrangeiros, quando
aterramos vindos “do outro mundo” no conforto da Europa, somos surpreendidos e
os nossos sentidos são invadidos por sentimentos de ternura, de impotência, de
culpa, de aventura e… de esperança.
A estrada é longa, panorâmica com pessoas, aqui e ali, de
Maputo para Chokwé. São centenas de todas as idades que vendem, trocam, e
tentam sobreviver a partir de quaisquer meios que têm à sua disposição, nos
passeios, nos autocarros, todos sobrevivem ao longo da estrada extensa e
poeirenta. A vila de Chokwé – um pedaço de nenhures que ninguém escolhe visitar,
mas um local onde muitos nascem, estudam em escolas subsidiadas, tal como as
nossas escolas de SLM e SVP, e onde mais tarde regressam para visitar a família
abandonada por um trabalho melhor na vizinha África do Sul. A beleza do oceano
Pacífico situa-se a apenas 100kms de distância, mas as nossas crianças não poderiam
viver mais afastadas dele, num local onde a terra não encontra a fugidia chuva,
durante grande parte do ano, onde o gado é escasso e fraco em pastagens secas e
a fome cresce a cada dia que passa.
BANG assim que chegamos a à escola de SVP, o sentimento é
avassalador. Um total de 1000 crianças, 200 das crianças mais carenciadas,
estão ao nosso cuidado; acabei de aterrar com o nosso voluntário responsável
pela realização de um documentário Niko T. Saudações de completos estranhos;
novos e idosos, elementos da equipa, crianças, freiras Vicentinas, que nos
recebem como membros da família que há muito não veem; com beijos e abraços
como se estivessem grande parte da sua vida à espera de nos reencontrar. E os
nossos hábitos do mundo ocidental “civilizado” que nos mantêm a uma distância
respeitosa, ficam esquecidos e retribuímos os abraços, e perguntamos pela saúde
das crianças e queremos saber o que foi o almoço… Pegamos em crianças que nunca
vimos antes, algumas reconhecemos a partir dos nossos extensos relatórios sobre
as nossas ações de apoio, mas até ao momento eram nomes sem rostos, e eles fazem-nos
festas na face e no cabelo. E é necessário tempo; tempo moçambicano… quente e
infinito; apenas para dizer olá e ainda mais para dizer adeus. Será que nas
nossas vidas preenchidas e ocupadas esquecemos a alegria e beleza de conhecer
um novo ser humano?
Edson, BANG BANG, a força esquelética, frágil e
encantadora deste rapaz de 11 anos que recentemente entrou no programa de
Apadrinhamento UPG e cujo destino o colocou numa cadeira de rodas. O Edson vai
todos os dias à escola sozinho, com a força dos seus magros e longos braços,
contra o pó e o vento, e mostra-nos um sorriso tímido e orgulhoso quando, com
espanto, o observamos no regresso a casa. Queremos segui-lo e fazer um
documentário completo sobre ele. Neste momento penso na minha preocupação,
durante o voo, em conseguir ligação à internet porque atualmente é totalmente
impossível para um ser humano sobreviver 24 horas sem Whatsapp.
Em seguida saímos de carro para o pequeno oásis situado
perto da Escola de SLM. Romântico apesar da pobreza, este pequeno complexo das
irmãs Vicentinas; com algumas árvores e machambas de vegetais que sobrevivem
com dificuldade e pequenos edifícios; fica situado numa escola à qual dedico
provavelmente 70% do meu tempo “livre”. Alimentar 800 crianças todos os dias,
apadrinhar 170 destas crianças, colocá-las em aulas de apoio ao estudo, cursos
técnicos, alguns poderão frequentar a universidade um centro de dia de VIH para
32, vamos envolver as mães e gerar rendimento familiar; infindáveis listas de
projetos exaustivos nos quais quero sempre fazer mais, mais rapidamente, em maior
número, para mais crianças; fornecer serviços mais essenciais, mais eficientes,
mais, MAIS!!
Será que eu e a UPG vamos conseguir fazer mais …? Será
que é necessário fazer mais …? Será que menos é suficiente …? Será que mais
NUNCA será suficiente…?
Dormir, dormir e esquecer… esquecer os mosquitos e a
adrenalina, amanhã o dia começa às 05.50h …"
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