"No dia 22 de Janeiro pela meia-noite a aldeia
de Barragem é inundada totalmente, os tetos das casas não eram visíveis, tendo
a população recorrido a aldeia de Chinhacanine, ficando assim interdita a
comunicação com Manjangue. Às 5h da manhã do dia 23, Manjangue também estava a
ser assolada pelas cheias ficando toda a zona submersa, e pelas 9h do mesmo dia
a cidade de Chókwe é assolada pelas águas ficando deste modo submersa. Uma das
alternativas para puder se fugir das águas era subir em cima das casas pela
velocidade com que vinha a água, porque para ir à Macia já não dava tempo, além
dos chapas (transporte), o preço ser assustador correspondente a 10 vezes mais o
preço normal e que a camada desfavorecida não conseguia pagar, optando em subir
em cima das casas. Comparativamente as cheias de 2000, estas são as que tiveram
mais estragos, assim como tantas mortes verificadas.
Na Barragem, a situação foi mais agravante
devido aos estragos que as cheias causaram, as casas de material local caíram e
a população perdeu tudo o que tinha conseguido após cheias de 2000. E, em Chókwe, as pessoas tentaram salvar algumas coisas mas quando os outros fugiam os outros
ficavam a roubar as coisas das outras pessoas, como foi o meu caso que fui
vítima de roubo de congelador, de cama e de loiça que tinha deixado em cima das
chapas, incluindo as próprias chapas, porque eu juntamente com a minha família
estávamos em cima de uma casa de alvenaria no lar da minha irmã que achamos
seguro e que é um pouco distante da minha casa, daí que ficaram a roubar em
casa.
As famílias que residiam na aldeia da Barragem
a qual foi inundada, estão agora a requerer talhões na zona alta de
Chinhacanine de modo a construírem neste sítio considerado seguro, e neste caso
como antes das cheias os jovens desta aldeia decidiram criar uma comissão de
modo a desenvolver esta comunidade, esta ideia partiu duma conversa minha com um
jovem que está no estrangeiro a estudar, e que a partir desta conversa coloquei
como proposta aos jovens desta comunidade na igreja e que gostaram bastante da
ideia. Estes jovens marcaram uma reunião para a gente se encontrar de modo a
desenharmos os objectivos que a Comissão deve lutar para atingir, e nesta
reunião fui eleito como presidente da comissão.
Enquanto esperava o reconhecimento da Comissão
ao nível do Distrito, como presidente da comissão meti um pedido ao
administrador do Distrito para nos autorizar a trabalhar no sentido de ajudar
as vítimas das cheias parcelando os talhões e oferece-las de modo a construir
as suas palhotas, e o pedido foi aceite, neste momento está a decorrer
demarcações de talhões para se distribuir as vítimas das cheias. Espero que
Deus ilumine os meus sonhos, ajudando os que mais precisam. Espero contar muita
coisa acerca deste assunto."
Por Mano Silvestre
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