26 de agosto de 2012

Mano Diogo aproxima-se da despedida!


"Os dias vão passando e, só faltando pouco mais duma semana antes de fazer as malas, há uma vontade inesgotável de aproveitar cada momento e de querer fazer o máximo possível para que o nosso legado aqui seja o maior possível…
No início da semana, o professor Donique sugeriu-me que inventasse um jogo que pudesse fazer com as crianças. Inventar é complicado… por isso eu sugeri um jogo que brinquei toda a minha infância: O jogo das cadeiras. Nunca tinham ouvido falar… Mesmo assim, passado 5 minutos de jogar já estavam radiantes… Riam, cantavam, batiam palmas… aqui tudo é pretexto para fazer uma festa. Fomos jogando mais vezes e a cada novo jogo tínhamos de ir buscar mais e mais cadeiras porque todos queriam jogar!... Chegaram a estar 35 miúdos e correr á volta de 34 cadeiras… O melhor deste jogo é que lhes ia pedindo que cantassem em português por isso até iam aprendendo alguma coisa… brincando.
As ruas do centro já têm nome! Vamos começar a pendurar os letreiros assim que for possível… (Avenida do Seminário, Avenida S. Vicente de Paulo, Largo S. João G. Perboyre, e outras ruas com nomes de santos e beatos da congregação vicentina…).
Está tudo encaminhado para receber a primeira-dama. Os miúdos têm ensaiado canções, algumas salas foram repintadas, está tudo varrido e arrumadinho… 3ª feira à noite dou notícias.
Era inevitável que me apegasse mais a alguns miúdos que a outros e por isso criei laços muito fortes com 7 ou 8 deles e, por isso, começo a adivinhar uma despedida difícil para a próxima semana, mas prefiro não pensar muito nisso agora. Mais vale render esta última semana que há-de vir para que também tenha saudades dela no futuro."

Mano Diogo




23 de agosto de 2012

Mais um afilhado Feliz...

"Visitámos em Março 2012, o projeto Banhine, onde conhecemos a nossa afilhada Diolinda.
Não existem palavras para descrever toda a nossa emoção.
O próprio país suscita-nos múltiplos sentimos e emoções,que não são explicáveis. As gentes boas, a terra pura, a diferença de cultura, os testemunhos, hoje abandonados da nossa passagem por aquelas terras. 
A expectativa do que iríamos encontrar, todo o trajeto até à Irmã Aparecida que foi tão querida e disponivel, o João que nos guiou até à Diolinda. Foi depois de muito tempo de deixarmos a estrada principal mato dentro, que chegámos à familia da Diolinda. Foi indescritivel vermos que de facto estava bem visivel o apoio da UPG. 
A Diolinda faltou à escola nessa tarde para nos receber. Preparam a esteira, as cadeiras disposta em roda, os cajus, o amendoim, prontinhos à nossa espera.
Num abraço forte à Diolinda percebi que é uma rapariga com fibra, tem um abraço generoso e envergonhada. A expressão risonha e feliz de nos conhecer deram-nos vontade de levar por diante o acompanhamento a esta família a esta jovem que quer ser enfermeira, e que caminha 4 horas por dia (ir e vir) para ir à escola.
Nós demos tão pouco, e recebemos tanto, tudo o que tinham para dar.
Depois de um pouco de conversa simples entre risos e histórias foi tempo de voltar. Mas não regressámos iguais.Fomos tocados pela simplicidade de quem só tem o essencial para viver, e que ainda assim o distribui de coração aberto e um sorriso, que não foi ensinado, que não foi forçado, que é puro e natural, como a terra onde habita , que só tem como riqueza tudo aquilo que Deus lhes deu, e que lhe basta.
Agradecemos a iniciativa e todo o trabalho desenvolvido pela UPG, que tão bem conduz estas missões.
Contamos voltar a Banhine com os nossos filhos.

Até lá

Tamos Juntos!

Padrinhos Piedade e Nuno





22 de agosto de 2012

Mano Diogo e as visitas familiares


"Nesta semana tinha de fazer umas fichas individuais para os miúdos, só para sabermos algumas informações sobre a sua estrutura familiar e o seu progresso escolar. Fiquei chocado com a quantidade de crianças que não sabia sequer quantos anos tinha… De facto, muitas delas nem estão registadas. São ninguém. Felizmente alguns tinham irmãos, primos ou vizinhos mais velhos que nos podiam dizer algumas coisas…
Eu já sabia que a grande maioria deles era órfão de pai, mãe ou dos dois. Mas fui percebendo que ainda havia outra classe (talvez ainda pior); são os que não são órfãos, mas é como se fossem. Pais, mães ou irmãos mais velhos que fogem para a Africa do Sul à procura duma vida melhor e que deixam cá os pequenos com as avós (se ainda as tiverem). É grave.
Esta estrutura familiar deficiente ajuda o abandono escolar, privando os miúdos de qualquer esperança de sair deste buraco, não há outra palavra. Não são 3 ou 4 os que abandonam a escola para ir pastar cabritos ou vacas – é muito comum.
A maior diferença que encontro entre um bom aluno daqui e outro europeu é que o moçambicano não teve ninguém a influencia-lo a estudar, a aprender. Tudo o que conquistou se deve ao seu trabalho e MUITO sacrifício. Eu sempre vivi numa cultura escolar e familiar em que era recompensado e confortado ao aprender. Quando me desmotivava, tinha colegas, professores e pais à minha volta a puxar a moral para cima e a dar-me vontade de querer continuar e não desistir. Aqui não1
E olho com tristeza para todos os lugares nas universidades portuguesas ocupados por alunos que, por comparação, não os mereciam. Gostava de ganhar a lotaria para poder oferecer cursos em Portugal a alguns destes miúdos. Uns, já com vinte, como o meu amigo Joaquim e outros que apesar de terem apenas 8-12 anos sei que são brilhantes e mereciam ser acompanhados decentemente desde esta idade para não se perderem pelo caminho. Um deles é o Santos. Está na 4ª classe e é muito esforçado, inteligente e trabalhador; fiz questão de ir visitar a sua família para lhes dizer isso mesmo. Fiquei muito contente quando a sua avó (o miúdo é órfão de mãe e pai) me disse que enquanto fosse viva ele não iria faltar à escola. Caso raro!"


Mano Diogo






15 de agosto de 2012

Charity Multisport e UPG

Raúl Costa participa na Haute Route 2012!

Raúl Costa entra na Haute Route 2012 com o objectivo de reunir fundos para o projeto "De Mãos Dadas com a Comunidade".
Força Raúl!Vamos ajudar o Raúl a ajudar crianças, adultos, famílias e comunidades em Moçambique!
Veja mais informações 
aqui






8 de agosto de 2012

O Voluntário Diogo e a sua segunda semana

"Nem quero acreditar que já passou um terço da minha estadia… Estou muito feliz. Combinámos na semana passada com o resto do pessoal do CPRPE que eu ia fazendo “a ronda” pelas várias atividades de forma a dar apoio a cada professor/vovó/mestre… Pela serralharia já tinha ido e para esta semana estavam agendadas a costura, a sala de aulas e o atelier.
O atelier foi o primeiro, logo na segunda-feira dia 30. Confesso que correu melhor do que eu estava a pensar… rapidamente a turma encheu e todos se puseram a pintar e desenhar. Vou ter de repetir a brincadeira, até porque como é uma atividade que está completamente dependente de mim e não de outra pessoa, posso “marcá-la” para quando me convier melhor.
A terça-feira desta semana voltou a exceder as minhas espectativas… O dia seria passado com o professor Donique. Coincidência ou não, a disciplina da aula que tínhamos de preparar era desenho. Achei que iria ser uma repetição do dia anterior, mas revelou ser muito mais rico que isso. O Donique entregou-me as rédeas e orientou-me para ser eu a dar a aula. Teria de conceber um desenho mais ou menos complexo que os alunos pudessem copiar. Ou seja, iria dar os passos um a um para que os alunos no fim da aula tivessem um desenho o mais parecido com o meu.
Apesar de, para muitos, usar uma régua fosse novidade eventualmente chegaram ao objectivo da aula: obter a estrela de 5 pontas igual à figura abaixo. A cara de extase dos miúdos quando a última risca obliqua foi desenhada e viram uma forma esquisista passar a estrela foi memorável… No fim, pedi que escrevessem o nome deles na figura e foi uma óptima oportunidade para falar com alguns e saber o nome das caras que tenho visto nos últimos 16 dias. No fim, levaram os desenhos para casa e adorei o facto de, à saída, irem a correr mostrar os desenhos que tinham feito aos outros que “preferiram” não ir à aula. Missão cumprida!

Mas foi na quinta-feira que me senti verdadeiramente útil aqui no centro. Depois do almoço, vejo cerca de 10 crianças vir a correr na minha direção e a dizer, com um português muito enferrujado, “Diogo, queremos ir pintar contigo!” – tal e qual. Uau!!!. Assim que acenei afirmativamente, meteram um sorriso do tamanho do mundo e foram contentíssimos buscar os lápis, folhas, canetas, etc…
Depois das pinturas, ensinei meia turma a dobrar uma folha para fazer um barquinho de papel. Pintaram-nos e quando os comecei a pendurar na parede juntamente com os desenhos que haviam feito, aqueles sorrisos voltaram.
Contei 25 crianças na sala. Nunca tinha visto tantas desde a minha chegada há 2 semanas atrás.
Nos últimos dias, têm havido sempre miúdos que vem e que se sentam à espera que eu apareça para que possamos fazer algo juntos. Nunca pensei que pudesse ter assim tanto impacto… A professora Gilda, que vive aqui também, contou-me que os miúdos preferiam ter aula com o Professor Diogo. Diziam-lhe que comigo conseguiam aprender brincando. Penso que esse é talvez o meu maior contributo a este centro… enquanto as crianças estiverem motivadas em aparecer vão aprendendo alguma coisa e saem da rua, que é um dos objetivos fundamentais desta missão.

Para a semana começo as visitas às famílias. O objectivo principal é saber porque é que alguns miúdos deixaram de aparecer no centro e, se possível, convencê-los a voltar."

Mano Diogo