29 de julho de 2016

"Isso não é humano"

"Terminou o primeiro dia de trabalho na escola São Vicente de Paulo. Um dia que começou bem cedo, como é costume. Muitos alunos têm de sair de casa às 4h/5h da manhã, para percorrer longos caminhos até à escola onde têm direito a uma refeição, que para muitos, é a única refeição do dia.
Começámos o dia a recolher informação com a irmã Alice, sobre as condições de vida da comunidade de Chokwé. A irmã falou-nos sobre a situação de uma família que vive em condições muito precárias, dizendo que eram das famílias mais pobres daquela região. Após termos visto algumas imagens, não conseguimos ficar parados e fomos imediatamente para o local onde eles viviam. Deparámo-nos com uma situação de pobreza extrema. Era uma “casa”, com cerca de 6 metros quadrados, construída com ramos de árvores, pedras, trapos e lama. Não tinha porta e estava completamente exposta a perigos. Viemos a saber que vivem lá cinco crianças, duas delas muito pequenas. Estas crianças são órfãs e quem toma conta delas é o avô, já bastante idoso e doente que vive numa tenda, mesmo ao lado.
O avô delas não falava Português, apenas Changana, o dialecto da província. Foi-lhe comunicado que iriamos fazer todos os esforços para os ajudar. Em primeiro lugar, fazer com que as crianças sejam transferidas para uma outra escola, que é mais perto da sua residência e onde beneficiariam de uma refeição.
Experienciar as condições de vida destas crianças foi chocante."

28 de julho de 2016

"Um talento “escondido” à nossa frente"


No dia de distribuição mensal das cestas às famílias, na escola de Santa Luisa de Marillac, estavam bastantes crianças com as suas famílias, ansiosas por receber os alimentos que a UPG assegura mensalmente.

Entre dezenas de crianças estavam dois rapazes a ouvir um rap, de uma forma bastante gratificante e conheciam-no de cór, como se tivesse sido feito por eles. Enquanto os rapazes continuavam a ouvir as músicas, um técnico da escola, o Orcídio, disse-nos que eram músicas produzidas por eles. Nós ficámos ambos surpreendidos, por termos um talento “escondido” à nossa frente.  

Perguntámos se já tinham partilhado as suas músicas e eles disseram-me que não, que não tinham recursos para o fazer. São uma dupla que cria raps á vários meses e juntos conseguiram juntar 150 Meticais (cerca de 2 euros) para ir a um estúdio gravar todas as músicas que até lá estavam apenas em papel e na mente deles.

Perguntámos se conheciam o youtube e se queriam que divulgasse-mos as suas músicas a partir daí. Eles olharam um para outro como se tivessem concretizado um sonho, que era divulgarem as suas músicas e tornarem-se rapers.

Já divulgamos no youtube a primeira música deles: “D%layz ft kid crayz & chin fayt on the gost – Block soldier”. Espero que gostem e no próximo dia de aulas vamos fazer-lhes uma surpresa e mostrar no youtube a sua música, com várias visualizações, esperemos nós e eles.


25 de julho de 2016

"As nossas primeiras impressões", por Bernardo e Filipe

Após um 11 horas de voo e a acordar e adormecer constantemente, finalmente chegamos a Maputo (capital de Moçambique). A primeira conversa com um nativo deu-se na área de acesso às bagagens. Um homem aproximou-se com um sorriso e uma proposta. Segundo ele, os guardas do aeroporto (que verificam a bagagem à saída do aeroporto), iriam levar alguns dos nossos pertences e obrigar-nos a permanecer no aeroporto durante horas. Eles argumentariam que não tínhamos permissão para trazer alguns de nossos pertences. Como poderíamos evitar esta experiência desagradável? Ao pagar um pouco de dinheiro, que iria "resolver tudo". Bem, nós decidimos seguir o conselho de um amigo...que nos tinha avisado antes sobre este tipo de situações e dissemos: "Não, obrigado". O resultado? Passamos pelos guardas e correu tudo bem. Estamos oficialmente em Moçambique!

Após a nossa chegada, uma ex-voluntária da nossa ONGD (Um Pequeno Gesto) e o seu pai vieram receber-nos ao aeroporto. Eles foram fantásticos e extremamente acolhedores. Ela estava na cidade para revisitar o local onde foi voluntária pela UPG à 4 anos atrás. No caminho, vimos um pouco de Maputo. A primeira sensação que tivemos foi: "é claramente um país muito pobre". Mesmo sendo a capital, tendo grandes edifícios, bancos, e.t.c., tudo parecia um pouco antigo e danificado.
No nosso caminho, atravessámos uma estrada bastante famosa que nos leva a um lugar chamado "Macia". Imagine-a como uma versão Africana da "Route 66". Vimos inúmeras pessoas sentadas no chão vendendo frutos. Enquanto estávamos a atravessar esta estrada, apareceram de forma inesperada, várias pessoas a correr na nossa direcção. Parecia que estava a acontecer algo importante. Nós não fazíamos ideia do que estava a acontecer, mas achamos surpreendentemente engraçado. Eles estavam a tentar vender cajus. Foram sem dúvida os melhores que já provámos! Ah...Moçambique!!!

20 minutos depois, chegamos a Xai-Xai. Já não há passeios, o chão está coberto de lixo, lama e poças de água sujas. A maioria dos edifícios têm apenas 1 andar e pareciam velhos. A maior parte dos edifícios foram pintados de vermelho, com o logótipo da Coca-cola ou da Vodacome. Estes edifícios eram bares, cafés e lojas locais. Aparentemente, estas empresas oferecem as pinturas e são extremamente populares aqui ahah. Mesmo ao lado da estrada, há crianças com coletes amarelos a vender cartões de telemóveis para os carregar, algumas mulheres andam com alguidares de fruta no topo das suas cabeças e outros estão sentados no chão, vendendo alimentos. Algumas mulheres, vestidas com saias típicas africanas, algumas crianças sem calçado e outras com os pés dentro de poças de água. Parecia semelhante ao que normalmente vemos em documentários e filmes.


Fizemo-nos à estrada novamente e finalmente a caminho de Chockwé, a cidade onde vamos trabalhar e viver nas próximas 6 semanas. O Hilário é o único que conduz o carro. Ele é o coordenador local da ONGD. A viagem foi excelente, conhece-mos o Hilário e trocamos várias ideias. Ele é incrível, apreciamos cada minuto da conversa, enquanto observávamos uma bela paisagem e ouvíamos kizomba (é um estilo de música dos países africanos) tivemos a mesma sensação: Uau, isto é lindo e está realmente a acontecer!

1 de julho de 2016

Apenas 1 mês...e que diferença faz!

A Azélia Cuna é uma das nossas meninas que frequenta o Centro de Dia HIV. Tem 10 anos e é muito dedicada aos estudos e ao Centro, a foto da esquerda foi tirada na visita da Direção em Abril deste ano, e a da direita foi tirada apenas 1 mês depois quando nos foi comunicado pela Parceira Local e pelo Técnico Orcídio de que a Azélia era um caso de sucesso do Centro de Dia. Por norma, no início do ano escolar em Moçambique (Fevereiro) as crianças surgem na escola com o estado nutricional mais debilitado, depois de uma pausa lectiva de quase 2 meses (menos para os meninos do Centro). Assim que começam a frequentar a escola e a beneficiar da alimentação que lhes é oferecida, estas crianças rapidamente recuperam e ganham peso e tornam-se mais saudáveis e por isso, num mês as diferenças são incríveis! No primeiro trimestre, a Azélia não teve negativas e está com média de 12 valores, melhorando os resultados do ano passado. Estamos por isso muito orgulhosos desta menina que, graças ao Centro de Dia HIV beneficia de alimentação cuidada e acompanhamento médico. 

Também pode ajudar: com 100€ por mês está a garantir que crianças como a Azélia possam crescer de forma saudável e ao invés de seguirem o trágico destino de milhares de crianças infectadas com HIV em Moçambique!