30 de julho de 2012


Primeiras impressões do Voluntário Diogo no Centro de Órfãos

"Uma das maiores dificuldades que tenho sentido nestes últimos dias é o baixo nível do português. Já sabia que era apenas uma segunda língua para a maioria da população, mas de facto torna-se complicado interagir e motivar crianças que quase só sabem “obrigado”, “bom dia” e “olá”. Assim que cheguei vi no campo de futebol cerca de 25 miúdos de várias idades e perguntei ao irmão: “estes miúdos estão aqui no centro?” A resposta não podia ter sido mais dura. Aqueles miúdos só lá iam para jogar futebol e a grande maioria não falava uma palavra de português.
Haveria de ter tempo para conhecer os que de facto têm aproveitado a oportunidade única que o irmão lhes tem dado nos últimos anos.
Mas o dia seguinte revelou uma surpresa muito engraçada. O irmão decidiu mostrar-me o centro. Durante a visita passámos pelas salas de costura, informática, biblioteca, serralharia e quando chegámos à sala de aulas, estava a haver uma aula com o professor Donique e o irmão fez sinal para entrarmos. Foi o meu primeiro contacto com os miúdos - estávamos no segundo dia no terreno.
Ao entrar, o professor perguntou-me como me chamava e respondi-lhe: “Diogo”. Quando dei por mim, estava o Donique e ensinar às crianças (eram 9 ou 10) a dizer o meu nome. E então, como um coro de igreja a turma toda entoava: Diogo! Diogo! Diogo! Foi formidável e senti-me muito acolhido.
Hoje tenho notado que os miúdos vão lentamente perdendo a vergonha… os mais velhos (12-13 anos) já me cumprimentam e perguntam coisas e os mais novos vão-se rindo quando olho para eles. Apesar da barreira linguística, tenho boas prespectivas…

A cada dia que passa, apercebo-me melhor da sorte que tenho em ter nascido noutras circunstâncias da maioria das pessoas que vou conhecendo. A sorte de ter nascido numa família que não me abandonou, a sorte de não ter nascido seropositivo, de ter tido acesso a uma educação, saúde e segurança de qualidade… E o mais espantoso de toda esta lista é que, no fim de contas, estas pessoas conseguem ser muito felizes à maneira delas. Dá que pensar…"



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