25 de agosto de 2009

Obrigada Padrinho Afonso!

Ganhei um novo Padrinho! Chama-se Afonso, tem 1 ano e vai ser Batizado no próximo fim de semana!


Para celebrar este dia tão importante do meu padrinho, os pais decidiram apadrinhar-me; Melhor, ganhei 3 padrinhos porque toda a familia a Madrinha Diana, e os Padrinhos Armando e Afonso são agora a minha nova família em Portugal!

Muito obrigada ( kanimambo ) aos meus novos Padrinhos e um dia muito feliz!


Não se esqueçam: como eu tenho MAIS TRES colegas e amigos aqui na Escolinha que ainda não tiveram esta alegria...
Banú

13 de agosto de 2009

" Gostava de voltar a ter um padrinho..."

Tenho 9 anos e chamo-me Banu Abdul Natu. Ando na 2ª Classe no Projecto "Escolinha do André", em Xai Xai e tenho boas notas a Português e Matemática, entre outras. Vivo com a minha mãe, os meus 3 irmãos e mais 3 pessoas numa palhota muito pobrezinha e miserável.
Ficamos sem os nossos padrinhos que de momento não tem possibilidade de continuar no Apadrinhamento. Damos Graças a Deus pela ajuda que nos deram até agora, foi muito boa e, graças a eles conseguimos ter 2 refeições diárias, frequentar a escola, receber cartas e por vezes alguns presentes. Muito obrigada a todos!
Como eu, existem mais 5 meninos e meninas entre os 9 e os 15 anos à espera de um novo padrinho.

Se me quiser apadrinhar, estou a pedir que mande um mail para geral@umpequenogesto.org.
Custa €0,37/ dia, €135/ano.

Vou ficar muito feliz quando souber que VOLTEI A TER UM PADRINHO

Obrigada - Kanimambo
Banu


24 de julho de 2009

Chamo-me Joana e não tenho Padrinho!

Olá
Eu chamo-me Joana e tenho 16 anos. Desde os 12 anos que tenho um padrinho que infelizmente este ano não pode ajudar-me. Sei que ele gosta de mim e penso muito nele e no que de bom fez por mim. Era meu padrinho e do meu irmão. Graças a ele posso estudar e graças a ele o meu irmão está na 12ª Classe e quase a chegar ao seu sonho de ser padre.
Mas estou triste de não termos mais um padrinho e tenho medo de não poder estudar mais. Já estou na 10ª Classe e gostava muito de poder continuar a estudar. Eu tenho boas notas e a minha disciplina preferida é Química. Moro apenas com a minha mãe e o meu irmão está no seminário em Maputo. Não temos machamba e a comida que recebemos do Apadrinhamento é essencial para nós.
Queres ser nosso padrinho?
Manda um e-mail para geral@umpequenogesto.org e diz que queres ser padrinho da Joana e/ou do Lúcio, vou ficar muito contente!
Joana

8 de julho de 2009

Às vezes é difícil não perder a esperança

A semana passada, tive de dizer a um menino de 10 anos que não lhe daria a comida da distribuição mensal até que voltasse a ir à escola diariamente e aparecesse todos os dias na casa das irmãs. O João é órfão, a sua mãe abandonou-o e a sua madrasta tentou roubar a sua comida. A Irmã Aparecida é agora quem o alimenta, veste e o manda à escola. Mas a tentação é forte e, na semana em que recebe a comida, fica em casa a comer... Já que era semana de exames do trimestre, tivemos de atrasar-lhe a comida...

Anteontem fomos à procura da casa de um menino da 2ª classe que deixou de vir à escola. Quando apareceu, disse que o pai não o deixava vir à escola porque queria que o menino trouxesse dinheiro para casa todos os dias. Quando fomos a sua casa percebemos porque veio à escola: o pai estava fora em Maputo. A Irmã Isabel prometeu voltar no Domingo para falar com o pai mas ontem o menino voltou às ruas. O pai voltou.

Ontem, quando saía da Escolinha de manhã, um policia pediu-me que desse boleia a um menino perdido. Disse que alguém o poria num carro para casa, a mais de uma hora de distância. Com medo de levar um menino desconhecido comigo mas sem coragem para dizer que não, decidimos levá-lo à esquadra mais próxima. O Ercídio não falava português e o meu escasso Changana serviu apenas para lhe descobrir o nome. Ainda mais reparámos que tinha um atraso mental. Garantimos que a policia o recebia e o levaria de volta mas continuaremos sempre sem saber se algum dia voltará a casa...

É difícil não perder a esperança num sítio destes mas é ainda mais difícil não ter esperança que as coisas podem melhorar. Confio que podem, rezo para que possam e espero que alguém oiça e se junte aos meus esforços. Como dizem aqui em Moçambique “tamos juntos”, é tudo o que podemos tentar fazer, pequenos gestos, e esperar que grandes ajudas aconteçam!

Sara, em Moçambique

22 de junho de 2009

Histórias de Chongoene: Mamã Ana

Mamã Ana tem 37 anos e cinco filhos. É uma das mamãs de família que recebe ajuda do Projecto Um Pequeno Gesto. Mas nem com a ajuda preciosa da Irmã Aparecida a sua vida tem sido fácil. Quando o pai das crianças quis construir uma palhota, mandou as crianças apanhar o capim na hora da escola. Ana opôs-se lembrando que a Irmã Aparecida ensinava sempre como as crianças deviam ir à escola. O marido não gostou e bateu na mulher. Ana não desistiu e defendeu-se com uma panela de água a ferver. O hospital recebeu o marido e a cadeia a mulher. Cinco filhos foram deixados sem pai nem mãe e nem a intervenção das irmãs tirou Ana da cadeia. Foi o regresso do marido a casa e a constatação que não podia nem sabia tomar conta das crianças que o fez retirar a queixa e deixou Mamã Ana voltar para casa.

Hoje, Ana voltou a ser mãe de Laurentino (15), Tomás (13), Fenias (10), Lourenço (8), Flora (5). Todos os dias, Ana passa a manhã na machamba (horta) que fica "lá", como diz, apontando para longe com o braço. A sua machamba fica a 1 hora de distância mas Mamã Ana não pode deixar de ir, para completar o arroz, amendoim, óleo e açúcar que recebe mensalmente da UPG. Para a água, a sua ajuda diária vem por vezes do filho mais velho Tomás. São mais de 30 minutos a andar até à nascente mais próxima (chalaza), mas mais tempo para voltar com o bidón de água na cabeça.

No meio de todo este trabalho, foi com um sorriso que Ana nos recebeu na sua casa, ou antes no seu pátio. Ainda que sem aviso prévio, as crianças correram de imediato para trazer as duas únicas cadeiras de plástico da casa (e quem sabe das redondezas) para as visitas. O espaço estava bem limpo e varrido e Ana conversou connosco sentada na esteira enquanto que Laurentino mamava do seu peito descoberto. Uma cortina tapa a entrada da porta da palhota onde fica com o marido já que a porta está caída mas ela "há-de arranjar". Lourenço, que parece entender português melhor que a familía é quem nos leva pela mão ao interior da sua palhota quarto onde dorme com os quatro irmãos. Temos vergonha de invadir o seu espaço e abstemo-nos de tirar fotografias ao cubículo redondo de menos de 2 metros de diâmetro, apenas metade ocupada com 2 esteiras e 2 mantas. "E vocês dormem todos deste lado?", "Sim...". Saímos em silêncio e sei que fazemos uma nota mental do que acabámos de ver para não nos esquecermos nunca do motivo porque aqui andamos.

Flora, Lourenço e Tomás têm 3 padrinhos em Portugal. Um dos nomes dos padrinhos era mais fácil de decorar e foi o que todos recitaram, mas pacientemente repetimos os nomes portugueses que a memória ameaça. Só Flora já não responde e nem olha para nós. Recebeu umas sandálias da Mana Rita para manter o seu pé infectado longe da areia e já não vê ninguém. Com sorrisos na cara e olhos brilhantes ao verem a roupa nova, ensaiam nervosos uma mensagem para filmarem para os padrinhos. Entre changana e português decidem que querem dizer todos ao mesmo tempo "Obrigado Padrinho!" mas como sempre acontece, o ensaio é melhor que o produto final. Mas não faz mal, os padrinhos ficarão contentes de saber a grande ajuda que são para a Ana e os seus cinco filhos!

22 de maio de 2009

"Mano Alberto, a Piedade faleceu"

Foi com uma voz trémula que a Irmã Isaura me ligou na passada 5ª-feira para me anunciar tão madrasta notícia. A Piedade tinha falecido. A Piedade tinha apenas 3 anos. Desde a sua nascença tinha sido uma criança de batalhas… era seropositiva e desde tenra idade mantinha uma luta constante com essa malvada, a SIDA. Todos os meses ia à consulta no Hospital do Carmelo, em Chókwè. Depois de receber os resultados das últimas análises foi-lhe dada ordem para ser internada com a máxima urgência. Foi a sua última batalha. Infelizmente perdeu a guerra…
No caminho do Chókwè ao orfanato (cerca de 30 quilómetros) tudo me passou pela cabeça. “Deus existe?!”, “Porque fez isto?!” Mas, pensando racionalmente, sem lágrimas a atrapalhar a razão, tudo isto faz parte da nossa vida. E em África, morte de crianças é uma coisa chocantemente comum. Quando cheguei ao orfanato o clima estava pesado. Só havia uma coisa que quebrava esta escuridão: as crianças. Os mais pequenitos não se estavam a aperceber da situação e continuavam a brincar como se nada fosse. Rapidamente se aglomerou um número impressionante de pessoas! A aldeia estava presente. Homens e mulheres reunidos para relembrar a Piedade. Na manhã seguinte, de novo toda a aldeia se reuniu para o funeral da Piedade. Numa cerimónia muito longa (começou às 9 da manhã e terminou já depois do meio-dia), todos nós acenamos o nosso último adeus à pequena Piedade. Toda a cerimónia foi conduzida em Changana, o que limitou a compreensão do que se estava a dizer. Muitos cânticos transportaram a Piedade no seu pequenino caixão branco coberto de mil e uma flores que todos os meninos do orfanato tinham recolhido. Na cerimónia, muito idêntica às cerimónias fúnebres em Portugal, podia-se ver a tristeza das crianças. A Piedade era uma irmã para eles.
Hoje, tudo parece melhor! O sol brilha lá no alto e todos têm um semblante muito menos carregado. No orfanato, o riso e os gritos das crianças ecoam novamente.
A vida continua… a vida tem de continuar!
Em memória de Piedade da Encarnação

28 de abril de 2009

Coisas de homens, coisas de mulheres

Passei a barreira psicológica dos 15 dias e só agora é que me estou a aperceber disso!
Há tanta coisa sobre a qual eu podia falar, mas nem sei por onde começar! No orfanato as coisas começaram a ficar mais pesadas. Agora, além de “mano”, também sou tratado por “sr. Professor”! Começaram as aulas de apoio ao estudo! É preciso ter paciência de santo para “educar” aquelas crianças! A experiência, desastrosa por sinal (!!!), começou com as crianças da 2ª classe. Infelizmente, as turmas aqui em Moçambique são tão grandes (rondam os 50 alunos/turma na escola que eles frequentam) que acredito que os professores não possam dar a devida atenção a cada um. Basicamente, repetem-se uns aos outros! Conclusão: em vez de aprenderem a ler correctamente, apenas decoram os textos. Hoje, quando eu perguntei quem queria ler vi um mar de dedos e mãos no ar… mas, na prática, só a Dalva, uma das gémeas, conseguiu ler ser inventar, cortar ou saltar palavras e frases. Todos os outros já tinham pré-decorado o texto… o problema é que banana e papaia são palavras bem diferentes, mas para as crianças com texto decorado, banana e papaia lesse da mesma forma. Que raio de cidadãos está a formar este país?!
Uma das coisas engraçadas deste trabalho em Moçambique (acredito que noutros pontos do globo seja o mesmo) é o facto de que tudo o que mostramos ou fazemos é uma novidade para as crianças! A música, as fotos, os jogos, os costumes, os dizeres, a comida… tudo é um universo por explorar para as crianças!
Hoje, os mais velhos ficaram maravilhados com a quantidade de músicas que o meu computador tinha! E quando lhes disse para escreverem o nome de algum grupo na barra de pesquisa do Media Player parecia que lhes estava a fazer cócegas! Até medo de tocar nas teclas tinham!!!!
“Sim, basta clicares uma vez na letra que ela aparece no ecrã!” - disse eu ao Bito. Os mais pequenos só querem ver desenhos animados!
Uma outra coisa interessante aqui é a forma como homens e mulheres dividem o seu trabalho!
“Vocês (rapazes) não fazem nada?!” – questão minha, em forma de pergunta retórica, para os rapazes mais velhos à hora de almoço. Na realidade, os rapazes “não mexem uma palha”! As meninas, mesmo as mais pequenas, servem o almoço a toda a gente, muitas vezes recolhem os pratos e, por fim, lavam a loiça! “São coisas de mulher!” – respondeu o Adriano…
À tarde estive a brincar à apanhada com os mais pequenos! Bem, as crianças correm que se fartam! Olha que para estudar não correm tanto! fiquei de rastos… era sempre eu a correr atrás delas!

No Chókwé, 28 de Abril de 2009